Técnico do Corinthians enaltece ajuda de quinteto do setor de informações, que entregou dribles, área de atuação e bolas paradas dos rivais na Liberta
Na reta final da Libertadores, Tite tinha trunfos que pouca gente imagina: papéis. O técnico andava pra cima e pra baixo com absolutamente tudo sobre Neymar, Riquelme e companhia. Material fornecido por uma equipe que não apareceu no pôster de campeão do Corinthians, mas o gaúcho fez questão de enaltecer: Fernando, Felipe, André, Thiago e Robson.
O quinteto trabalha no departamento de logística e informações do Timão. Foram eles os responsáveis por um verdadeiro raio-x dos adversários da equipe na campanha do título inédito. Também será deles a missão de destrinchar os times do Mundial de Clubes, principalmente o Chelsea (ING), para que Tite, seus auxiliares e jogadores conheçam tudo até dezembro.
Todos os recursos possíveis foram usados e distribuídos aos jogadores. Nas preleções e palestras do treinador e também em pen drives. Em algumas ocasiões, atletas recebem vídeos gerais e específicos sobre o rival para assistirem na concentração. Foi o caso, por exemplo, de Alessandro. O lateral-direito foi abastecido com um vasto material sobre Neymar antes da semifinal, na Vila Belmiro. O camisa 11 fez pouquíssimo em campo e o Corinthians venceu por 1 a 0, se aproximou demais da decisão.
Mais completo ainda foi o trabalho para decifrar o Boca Juniors. Pelos mapas de calor cedidos aos clubes pela Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), um recurso que mostra a área de atuação dos jogadores quando têm a posse de bola, a comissão técnica concluiu que quase todo jogo do time argentino fluía pelo lado esquerdo, com revezamento e aproximação entre Riquelme e Erviti. E Tite também descobriu como marcar a bola parada do camisa 10.
Espiões do Timão posam em sua sala no CT Joaquim Grava
Todo departamento de logística acompanha e nos dá condições de saber que todas as bolas que o Riquelme bateu pelo lado esquerdo vão no segundo pau, para o Schiavi (zagueiro), e do lado direito elas são um pouco mais fechadas. Passamos isso ao grupo - disse o técnico.
Agora a meta será descobrir os segredos dos possíveis rivais do Mundial, que será disputado no Japão entre 6 e 16 de dezembro - o Corinthians estreia no dia 12. Por isso, Fernando Lazaro, integrante da equipe e filho do ex-lateral-direito alvinegro Zé Maria, comemora o fato de haver tempo para colher material.
A maioria das imagens é fornecida por empresas com as quais o Timão tem acordo. Dessa fonte virão partidas do Monterrey, representante do México na competição, do futebol japonês, que também terá seu campeão no torneio, entre outras. Mas o ideal mesmo é quando o time de "espiões" consegue fazer a sua própria filmagem.
Eles acompanham Mauro da Silva, observador da comissão técnica de Tite, em algumas partidas. No Pacaembu é fácil. Eles podem escolher onde ficar, posicionar a câmera da melhor maneira e captar as imagens. Fora de casa, no entanto, é preciso incorporar James Bond. Durante a Libertadores, se infiltraram até nas torcidas dos adversários dos times analisados, pois era mais fácil filmar.
- Na liga inglesa há um acordo entre os clubes, que fazem e cedem para os outros. Mas aqui é mais difícil, os clubes acham que vamos usar contra. Fui com o Mauro a jogos no Paraguai, Uruguai, dá para entrar discretamente com uma câmera e achar um lugar mais apropriado - revelou Fernando, que também explicou as diferenças entre suas imagens e as usadas numa transmissão pela televisão, por exemplo.
- Tentamos captar uma imagem bem aberta, o ideal é conseguir colocar todos os jogadores na tela, desde que seja possível identificá-los, para mostrar a movimentação com e sem a bola. Só em cobranças de faltas e escanteios podemos fechar um pouco mais, mas o normal é tentar pegar de uma lateral à outra.
Segundo o filho de Zé Maria, os jogadores estão tão adaptados aos métodos que chegam a cobrar quando os pen drives demoram a ser entregues. Aliás, o quinteto de espiões segue o modelo do time dentro de campo. Se Tite aumenta o tom de voz para anunciar que não há estrelas no Corinthians, Fernando Lazaro faz questão de ressaltar a importância dos companheiros. Foram eles, por exemplo, que tinham um relatório completo do comportamento do goleiro Orion e dos batedores de pênalti do Boca Juniors, caso o título precisasse ser decidido dessa forma.
A meta de Felipe, André, Thiago e Robson, daqui para frente, será estudar cada passo de Petr Cech, Ramires, John Terry, Frank Lampard, entre tantos outros. Para, no fim do ano, o time de espiões sem estrelas poder comemorar novamente.
Fernando Lazaro, filho do ex-lateral Zé Maria, ouve cornetadas do pai
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